A postura clínica
dos profissionais de saúde para atendimento em psicossomática, deve ter o
diferencial de buscar formar um vínculo, diminuir a tensão emocional, exercitar
a escuta – que já apresenta um efeito terapêutico, ter percepção simultânea em
dois sentidos – para os dados objetivos e subjetivos e como estes se articulam,
demonstrar aceitação – ouvindo as queixas sem julgar, e ter adequação da
linguagem, para facilitar o entendimento pelo paciente. Além de uma
auto-percepção do profissional, observando os seus limites. Em todo esse
processo um bom rapport é indispensável, para que estes pacientes possam tentar
se comprometer com o seu tratamento.
Mas, além do atendimento
clínico e medicamentoso, no processo de reabilitação é importante um
atendimento integrado e dinâmico, abarcando diversas especialidades que permitam
uma visão mais abrangente do processo saúde/doença. Já que o organismo possui diversas
respostas para descarga das excitações, mas elas estão imbricadas e as reações
reverberam umas nas outras concomitantemente, sendo de alguma forma uma reação
biopsicossocial, devendo o tratamento ser também em conjunto. O objetivo da
abordagem combinada é uma melhora do paciente nos aspectos físico e psíquico,
favorecendo uma adaptação, diminuição dos ganhos secundários e aumento da
capacidade de ajuste a realidade, buscando a reversão da patologia.
Assim, a proposta de trabalho
terapêutico dos profissionais dever ser de maneira integrada. Neste sentido, a psicossomática é um resgate de uma visão
holística em saúde. Freud é um dos teóricos que colaboraram nesta
mudança de paradigma, pela importância dada à fala do sujeito e seus conteúdos
inconscientes, conflitos psíquicos e realidade subjetiva, para compreender de
maneira mais ampla o sujeito, o seu estado de saúde e a sua relação com o
sintoma que manifesta. Nesta perspectiva, entra em cena a pessoa no lugar do
corpo, trazendo consigo seus referenciais, sua história de vida, a partir da sua
interação com o seu meio.
O importante na
atuação é que haja um caráter multireferencial, que favoreça a dialética de
diversas possibilidades teóricas, que permitam abordar o corpo, a mente e o
grupo no processo de tratamento. Vale ressaltar que na psicossomática a técnica
é imbuída de um novo olhar sobre o paciente, alargando as possibilidades de
investigação, favorecendo maior “eficácia no diagnóstico e um alívio mais
consistente, revertendo as somatizações” (1, p. 195).
Um ponto destacado
é a importância fundamental da psicoterapia para pacientes com manifestações
psicossomáticas. Mas é algo delicado já que raramente estes pacientes procuram
este atendimento espontaneamente, normalmente vão a partir de indicação do
médico clínico, assistente sociais etc., ou pelas co-morbidades que se
manifestam como angústia, ansiedade, depressão ou isolamento social, fatores
que reverberam na família, aparecendo a demanda de atendimento psicológico.
Pacientes
psicossomáticos se colocam como não necessitados de psicoterapia. Estes expõem
seus sintomas manifestos como algo concreto e objetivo, que justifique o seu
comportamento, e não deixam aflorar a sua subjetivação, permitindo que os
conflitos psíquicos, que favoreceram o processo somático, possam manifestar-se.
É necessário arte no manejo clínico, para reconstituir a história deste
sujeito. São psicoterapias que exigem tempo e uma ação ativa do psicólogo, já
que a atitude do paciente é passiva. O psicólogo necessita perceber os limites
e conflitos do sujeito, identificar os desencadeadores de tensão emocional e os
sentimentos em relação à doença.
O enfoque
teórico/psicológico para atuar com pacientes psicossomáticos pode ser o mais
variado possível, como psicanalítico, comportamental ou grupal. Especificamente
em psicanálise, deve-se ter todo um cuidado na postura clínica, conduzindo
face-a-face a análise, permitindo a relação inter-pessoal, para que a pessoa
possa realmente se constituir como sujeito. É importante também a verbalização
do terapeuta, abrindo caminho para as possíveis associações do paciente, não
deixando que o silêncio possa levar a decepção com o tratamento e a quebra do
vínculo terapêutico. Pois, na psicanálise é fundamental a formação e manutenção deste vínculo no
manejo clínico, sendo bem vindas as manifestações de
transferência.
No processo
deve-se buscar a
re-significação dos sintomas através de uma ratificação subjetiva, pois “o adoecer pode ser
considerado uma tentativa de estabelecimento de um equilíbrio para o corpo” (2,
p. 12). Mas, é um exercício de paciência, já o paciente psicossomático no
seu discurso faz mais analogia, de acordo com a sua necessidade e estado, do
que associações livres (1).
Outro enfoque
que pode ser usado é o grupal, que favorece o contato interpessoal, trabalhando
o isolamento social. Estes grupos devem ser homogêneos e buscar fazer o
paciente reconhecer o nexo entre seus sintomas e seu estado emocional, para que
possam se comprometer, percebendo o sintoma físico como recurso defensivo. Mas
é preciso ser condescendente com estes pacientes e o trabalho é prolongado.
Nesta terapia pode ser usada a técnica de livre conversação.
No geral, a atuação
do psicólogo deve levar o paciente psicossomático a restabelecer a auto-estima
e uma imagem corporal saudável, mobilizando o sujeito para mudanças
comportamentais, que possam otimizar o seu processo de tratamento e cura.
Enfim, este foi um apanhado geral, pois as possibilidades de
psicoterapias são muitas, não havendo condição de abarcá-las todas neste blog.
Mas, ficou evidente a importância do psicólogo neste processo, sendo um
fomentador de discussão, que na nossa formação acadêmica pode ser aprofundado.
Além do que, percebe-se um vasto campo de atuação, já que atualmente há um
reconhecimento do aspecto psicólogo na manifestação de qualquer patologia e em
especial nas psicossomáticas, favorecendo a inserção de futuros psicólogos.
Chegamos assim, a conclusão desse conteúdo e ao invés de sensação de alívio, o
que se sente é uma falta, mas como essa não pode ser preenchida, o que se pode
fazer é deixar o espaço aberto para novas experiências, que sejam tão
enriquecedoras como esta. Um abraço! Cássia.
Obs.:
Referências em anexo no comentários 1
Descobrir o caminho
da cura para os problemas psíquicos,
é permitir que a cada dia,
a cada nascer do sol,
a vida possa ser plenamente vivida.
Cássia.
Referências:
ResponderExcluir1. REICHELMANN, José C. Medicina psicossomática e psicologia clínica, veredas interdisciplinares em busca do “elo perdido”. In: Angerami-Camon, Valdemar A. (Org.) Psicologia da saúde: Um novo significado para a prática clínica, (pp. 171-199). São Paulo: Pioneira, 2000.
2. CAPITÃO, Cláudio G.; CARVALHO, Érica B. Psicossomática: duas abordagens de um mesmo problema. Pepsic, v. 7, n. 2, Ed. Vetor. São Paulo, dez./ 2006. Disponível em: http://www.scielo.br, acessado em: 05 mar. 14. [Link: pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-]