domingo, 13 de outubro de 2013

Em uma modernidade líquida, uma educação indelével

  • Reflexão baseado no livro de Bauman – Modernidade Líquida.

Na loucura da genialidade (afinal todo gênio tem algo de louco, pelo menos é preciso saber delirar!) Bauman não consegue escrever um Prefácio (ou “pré-fácil”), mas um “pré-difícil”, imbricando uma rede de ideias, que passa de maneira interessante por uma série de teorizações questionadoras e instigantes, o mesmo ocorre na sua concepção sobre tempo-espaço. A partir de tantas possibilidades considero essencial problematizar de acordo com as minhas concepções e perspectivas, para abordar de maneira crítica o autor e buscar associar com a educação.


Na atualidade é possível vislumbrar o despertar de uma nova realidade, uma sociedade em formação, que tem o caráter de estar em rede, pautada pela informação, alicerçada pelos moldes do capitalismo e do consumo. A globalização do potencial de comunicação e consumo, fez com que houvesse modificação na estrutura social e na vida dos seus indivíduos, pois tudo se torna muito mais rápido e, com isso, muito mais efêmero. Mobilidade e inconstância são as principais qualificações.


Neste sentido, é que se percebe a imersão em um mundo caracterizado como líquido-moderno por Bauman (2000). A modernidade líquida é o espaço da mudança constante, do consumo, caracterizada por reinícios ou sucessivos finais. Nesta sociedade tudo é descartável, dos objetos aos sentimentos. A necessidade de modernização faz com que os sólidos percam o prazo de validade, adaptando-se ao imperativo da troca e flexibilidade – “a nova ordem é volátil”. Até os relacionamentos se tornam matéria residual, que deve ser descartada. Isso pelo fato de que tudo deve ser invariavelmente renovado, exigindo upgrade constante.


A única base nesta vida de incessante substituição é a necessidade do ter, o que levou a desenvolver-se e concretizar-se o espaço da sociedade de consumo, do qual muitos foram excluídos, por não se admitir o contato com a diversidade, não importando mais os valores e o ser em si. É a humilhação sofrida pelos menos favorecidos, causada por uma sociedade alicerçada no ter em detrimento ao ser, que desperta para um drama social e existencial de quem não tem nem voz nem vez.


Nestes espaços não há nem mesmo interação, “só consumo”. Ocorrem apenas encontros desencontrados, sem história e que não visualizam novos horizontes. Como diz Clarisse Lispector (em Hora da Estrela) “Ninguém lhe responde o sorriso, porque nem ao menos a olham”, já que não há tempo para as trocas intersubjetivas. A visão é pautada pelo plano material, traduzida na possibilidade exacerbada de consumir, onde se está sempre em constante movimento, em um eterno devir. Já não há mais espaço e tempo para concretizações, vive-se apenas o enaltecimento da satisfação do momento presente, a fluida eternidade gestáltica do aqui-agora.


Como se percebe a fluidez é a característica dominante, e isso está presente na vida, nas nossas relações e, por conseguinte, na educação. Na era do biodegradável tudo é considerado descartável, até mesmo, e as vezes muito mais, a educação, que é deixada em terceiro plano, pelo seu papel preponderante de formação de opinião e pensamento crítico. A modernidade líquida é uma realidade por vezes alienante e o processo educacional tem, sem dúvida, a função de fomentar a discussão, a reflexão e mesmo a análise, como elementos importantes para mudanças e transformações, em meio a uma sociedade impregnada pelos valores de mercado e da exclusão.


Por fim, a partir do raciocínio do “conhece-te a ti mesmo”, coloco em reflexão o nosso espaço na educação. Entendo que quando se é míope, e não se usa óculos, pode simplesmente imaginar que o mundo é opaco e sem foco. Neste sentido, para mim a educação é como uma lente de aumento da mente, aquela que tira a opacidade e limitação do pensamento, alargando as fronteiras, e nos remete a uma outra postura política e social -  transformante e transformadora. Por isso, para estar na educação é preciso querer fazer a diferença e isso implica em ocupar um espaço no tempo, não pautado pelo descartável e consumo de conteúdo efêmero, mas que deixe uma marca indelével e significante, na relação de aprendizado que será vivenciada com o outro.

 

Espero que possam compartilhar comigo esta aventura, assim com certeza nos encontramos em uma próxima reflexão, pois há muito a ser debatido e compreendido. Com Carinho, Cássia.

6 comentários:

  1. Referência:
    BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

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  2. me veio rápido um paradoxo: a modernidade líquida poderia ser representada por um maior desapego das coisas, um largar e largar-se mais fácil... mas, na prática trata-se de uma consequencia do ter, do consumismo. Será que podemos trabalhar a vertente desapego como recomendação para uma nova vida, já que essa liquidez veio para ficar? Seria esse o seu "lado bom"?

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  3. O SABER É UMA CONSTRUÇÃO CONSTANTE DO CONHECIMENTO E COM ELA VEM TODAS AS ADVERSIDADES, POR ISSO É MARAVILHOSO TER VÁRIAS OPÇÕES DE FONTES DE CONHECIMENTO E A INTERNET É A MAIS EXTENSA DELAS, E A QUE EU MAIS ME APEGO EM TODOS OS SENTIDOS QUEM NÃO ESTÁ NO MUNDO VIRTUAL NÃO ESTÁ NO MUNDO MATERIAL.......

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  4. Cássia adorei seu texto!!!! Simplesmente maravilha. Uma pena que a escola muitas vezes esteja funcionando da forma oposta, e ao inverso de fazer ver, "libertar o oprimido" (Paulo Freire), tem tornado as visões mais opacas, em uma "miopia" permanente e talvez proposital, quem sabe???

    Talvez precisemos voltar a ler o Pequeno Príncipe e como uma criança entender que "o essencial é invisível aos olhos" mas não pode ser invisível a mente e ao coração.

    Eis a função da educação, ser o óculos, a lente de aumento, limpar as janelinhas embaçadas... Mas para ampliar as visões dos outros precisamos fazer isso primeiro com as nossas. E quando isso é colocado de lado? Como fica?

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