E como ficam as relações na era da sociabilidade interativa? Deparando-se
com uma questão tão instigadora, é
impossível não se mobilizar e buscar suscitar reflexões que levem a um entendimento, onde não há verdade constituída, mas um universo
de possibilidade de compreender esta dimensão. Esta será uma delas!
O know-how dos avanços tecnológicos, que a cada dia se re-atualiza, mudou a forma das pessoas
se relacionarem, aumentou o nível de possibilidade de comunicação e intercâmbio,
diminui as distâncias, mas alargou as
fronteiras. A era da supremacia das tecnologias interativas levou a
emergência de um novo paradigma no campo das relações sociais. Percebe-se uma
configuração de existência marcada pela autonomia, onde, de forma on-line, as
pessoas podem se suprir de todas as suas necessidades – materiais e sociais. A
sociedade interativa globalizada se torna o espaço do individualismo. Um
verdadeiro paradoxo!
Estas mudanças, fomentadas pelo desenvolvimento cibernético, transformou
um universo global em um ciberespaço, acessado automaticamente
com apenas um click. Isto levou ao desenvolvimento da “sociabilidade interativa” (termo
pessoal), onde as interações sócio-afetivas se dão de maneira virtual, tem sido responsável pelas novas formas de relações espaciais e temporais e afetado a subjetividade do homem contemporâneo. Nesta esfera pós-moderna de imediatismo
pode não haver a produção de sentido, mas apenas recepção passiva, sem atitude
reflexiva. Desta forma, se perde o senso de realidade, por não haver análise
crítica, e torna mesmo impassíveis as ausências físicas, já que basta uma visão
on-line para a satisfação dos daydreams. O ciberespaço se não for
problematizado pode ser caracterizado como espaço de alienação, futilidade e
do neo-individualismo intensificado.
Este novo espaço tem a sua forma de cultura – a cibercultura, que tem
afetado a identidade dos seguidores desta tendência, pois cria os seus próprios
significados, novas influências e identificações. Mas pela maneira veloz com
que mudam de configuração estas não se enraízam, apenas amplia a possibilidade
de transformação desta realidade idealizada. Com a cibercultura se percebe a
imersão em um mundo caracterizado não apenas pela virtualidade, mas pela mutação
constante. Um potencial tão dinâmico que o céu não é mais o limite.
Em meio a tantos recursos talvez nem seja mais preciso ter um avatar, já
existem perfis, blogs, etc. É só logar e cair na rede – como se fosse um
universo paralelo. Nunca se esteve em tantos lugares, se comunicando com tal rapidez
e com tantas pessoas ao mesmo tempo, reafirmando concretamente os princípios da
mecânica quântica. Mas, ao mesmo tempo, tão distanciados e ausentes em suas
relações.
Hoje em dia, descer para o “play” (sinônimo de ir se divertir – interagir) é plugar e se ligar em uma
tela, conversar por chat, enviar mensagens e postar fotos. Mas quem ouve a
nossa voz e sente a nossa emoção? Com quem discutir o significado das mensagens
que se envia? Quem faz parte dos nossos álbuns de recordações? Estamos
preparados para abrir tantos espaços virtuais e aumentar tanto as fronteiras
das relações?
É preciso saber equalizar esta relação com o espaço e a
cultura cibernética, já que o ser humano é complexo, tendo na sua existência diversas dimensões que não
devem ser esquecidas em detrimento a um único plano. Além do que, o social é algo concreto e bem exigente, e a
falta de inserção nesse meio constrange. Com isso, o medo intensifica o desejo
de pertencer, infelizmente, independentemente dos meios.
Em vista de todos estes pontos há que se questionar: Onde
está a educação? Qual a função do educador neste contexto? Qual a postura desta
classe, habitantes das universidades e da sociedade da cibercultura? Estes têm
que atentar para um fazer e atitude - problematizadora e
conscientizadora, que não cala diante de todas as concepções que são oferecidas
como verdades prontas, para serem ingeridas sem serem degustadas.
É essencial, frente a uma sociedade que está perdendo o seu referencial, intervir
no sentido de alertar para a necessidade de implicação no processo e
auto-avaliação constante, percebendo de forma concreta até que ponto a virtualidade tem afetado a sua vida, seus desejos, suas necessidades,
suas relações. Este profissional deve, então, ser canal para um processo
de conscientização, que com certeza poderá gerar frutos concretos, para uma
vida mais harmônica e realmente significativa, diminuindo as fronteiras dos
relacionamentos – sociais e afetivos, ampliando os horizontes e perspectivas do
sujeito, que poderá enfim descobrir o que realmente pode fazê-lo feliz, indo além da simples
possibilidade de virtualidade.
Está explícito que este tema foi discutido por uma vertente que
evidenciou mais os aspectos negativos. Mas é preciso ter consciência de que há
muito de positivo a ser analisado, como por exemplo, a construção do
conhecimento em rede, que se oferece inclusive nesta oportunidade. Por isso,
esta temática com certeza deverá ser retomada em uma nova postagem, e assim
avançaremos na nossa rede de discussão interativa. Abraços, Cássia.
No “oceano” da Internet navego com barquinho a vela. Não porque não tenha pressa, mas porque preciso não perder a arte de me encantar com o novo, e a velocidade tira a capacidade de refletir sobre a ação. Cássia. |
Referência nos comentários.
Sua preocupação com as relações humanas é muito relevante. Estamos cada vez mais isolados, nos encontramos nos espaços virtuais, nos falamos por mensagens, até uma ligação virou artigo de luxo!
ResponderExcluirEstoy de acuerdo en varios puntos con respecto a que algunas personas se convierten en dependientes de la tecnología y olvidan o evitan el contacto físico con quienes están a su alrededor, por eso se debe tener cuidado en que no seamos objeto de la tecnología sino que la tecnología se un medio para nuestra interacción.
ResponderExcluirTRIVINHO, et al (org.) A cibercultura em transformação [recurso eletrônico]: poder, liberdade e sociabilidade em tempos de compartilhamento, nomadismo e mutação de direitos. São Paulo: ABCiber; Instituto Itaú Cultural, 2010. (capítulos de Erick Felinto e de Adriana Amaral - p. 39 à 58, disponível em http://www.moodle.ufba.br/file.php/10203/cultura_digital/a_cibercultura_em_transformacao.pdf).
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