domingo, 15 de dezembro de 2013

Tecnologia Assistiva na educação

O mundo vive um período de evolução tecnológica impar, há as mais diversas possibilidades de utilização dos recursos tecnológicos e em campos variados. Na saúde é possível deparar-se com os avanços dos aparelhos tecnológicos para diagnóstico, exames e cirurgias, a engenheira utiliza os mais sofisticados recursos computacionais para construção e infraestrutura, a indústria de base tornou-se quase toda automatiza e até o ramo agrícola está integrado com as tecnologias para produção de alimento.

A educação, um campo que permeia todas as outras áreas do saber, está também se adequando a este novo patamar da era digital. A utilização destes recursos faz parte tanto do aprendizado dos alunos, quanto da formação e atuação dos professores. Contudo, diferente de outras áreas, onde a tecnologia se integrou definitivamente na prática profissional, na educação há diversidade de perspectiva. Isso de acordo com a região, o tipo de formação profissional, os recursos das instituições, a ação ou concretização das políticas públicas.

Entretanto, há uma área do conhecimento que tem tornado a adesão ao mundo digital mais presente e necessário na educação, a tecnologia assistiva. Este campo tem como objetivo promover a acessibilidade, a partir do desenvolvimento ou da adequação de recursos, objetos ou estratégias que favoreçam a autonomia formativa e educacional de pessoas que apresentam alguma necessidade especial.

Claro que a tecnologia assistiva não está ligada apenas a educação, esta atua para inclusão plena da pessoa com necessidade especial no aspecto educacional, laborativo, social, no esporte, e onde mais se faça necessário a implementação de soluções de adaptabilidade. Mas, especificamente na educação, está se torna mais imprescindível, afinal é neste campo que se desenvolverá conhecimentos, habilidades e competências essenciais para todas as áreas da vida destas pessoas.

Também a tecnologia assistiva não diz respeito apenas ao uso das TIC’s (tecnologia da informação e comunicação). Pelo contrário, recursos simples como a adequação de uso de lápis ou caneta, usando material como epóxi ou fita adesiva, para facilitar o pegar e pressão, ou uma prancheta para fixar o papel para leitura, e muitas outras possibilidades adaptativas que vise a funcionalidade do uso do material didático, são considerados tecnologia assistiva.

Contudo, no campo digital e no uso das TIC’s é onde tem havido um significativo desenvolvimento de recursos e estratégias para objetivar a independência nos estudos, bem como para uma formação profissional de qualidade, que habilite estes sujeitos para o mercado de trabalho e uma melhor qualidade de vida em sentido pleno.

Estes recursos tronam-se possíveis a partir das adaptações de hardware e software para tornar a máquina e os programas adequados às limitações e necessidades educacionais apresentadas, e que dê condições para a plena inclusão. Entre os produtos e serviços destaca-se leitores de texto, aparelhos para controlar remotamente o ambiente, colocação de legenda, dentre outros.

Com esta instrumentalização da máquina e dos programas torna mais viável o uso do computador, como das tecnologias móveis, para o processo de ensino-aprendizagem, facilitando a comunicação, o acesso a material de estudo, a execução de atividades didáticas, a atividade em rede e construções colaborativas.

Sem dúvida é um grande espectro de possibilidades e que a cada dia se amplia, no sentido de tornar o processo de inclusão, mais que um discurso politicamente correto, mas uma prática efetiva, que deixa sua marcar e dá frutos de independência e efetiva qualidade de aprendizagem e formação.

Com isso, tem, sem dúvida, um papel importante no sentido de diminuir as diferenças e desigualdades sofridas pelas pessoas com necessidades especiais, colaborando não só na educação, mas também para quebrar as barreiras das limitações e do preconceito ao disponibilizar oportunidades de acesso.

Este é um tema bem instigante e que merece ser melhor conhecido e explorado, para tanto está disponibilizado abaixo dois artigos importantes para o entendimento da temática. Bem como, ao lado no início do blog encontra-se o link para acesso ao site do Prof. Dr. Teófilo Galvão Filho um dos mais renomados teóricos da área de tecnologia assistiva, e que também atua de maneira ativa e engajada nesta área. Neste site é possível encontrar artigos, livros, notícias relacionadas a educação inclusiva e tecnologia assistiva. Vale a pena consultar! Com carinho, Cássia.
                                                                               



Acredito que será muito mais fácil ocorrer
a inclusão, quando se descobrir que é possível se relacionar com igualdade e respeito em meio as diferenças e diversidades. Cássia.






Referências para consulta no comentário 1.

 


domingo, 8 de dezembro de 2013

Documentário Filhos de João – cultura e informação através da sétima arte

Filhos de João: O admirável mundo novo baiano, de Henrique Dantas (2009).
O post desta semana tem esse tema para discussão. 

A Bahia é um celeiro cultural, há ícones da literatura, da dança, do teatro e, em especial, da música. Dando destaque a este campo musical, o filme (Filhos de João) vem apresentar o histórico dos Novos Baianos, grupo musical que esteve em atividade de 1969 até 1979, composto por: Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca, Moraes Moreira, Tom Zé, Luis Galvão, Dadi, Baxinho.  

O filme mostra como as relações de amizade e o grande talento musical associado, podem modificar a vida de um grupo, que deu ascendência não apenas a transformação no mundo da música, mas na cultura em geral, bem como na política. Um encontro que transforma as histórias pessoais destes amigos, que trazia a música na mente, no coração e no dia-a-dia, e que de tão presente vence as barreiras em busca de um ideal utópico. Assim, esta geração não apenas encantava com a música de qualidade, mas com uma postura contestadora, diante de uma realidade ditatorial vivenciada na época (década de 1970).

Com certeza amavam os Beatles e os Rolling Stones, e puderam com a sua música tanto protestar quanto aliviar as tensões dos corações angustiados pelas pressões da falta de liberdade e direitos da ditadura militar.

É interessante que estes revolucionários culturais não apenas trabalhavam juntos, como grupo musical, mas partilhavam uma vida comunitária, vivendo de maneira desprendida o ideal de partilha e fraternidade, influenciados pela cultura hippie de liberdade, paz e amor.
 

Tinham como hobby o jogo de futebol, e até cogitaram deixar a música pelo esporte. Ainda bem que não o fizeram, pois com a imensa criatividade e talento que apresentava (e apresentam, já que muitos deles ainda estão atuantes na música), faria muita falta ao cenário cultural artístico brasileiro.

A película é um documentário que articula imagens, vídeos, músicas e depoimentos, muitos deles emocionados. E apresenta com riqueza de detalhes esta trajetória que foi significante e deixou uma marca, relembrada por gerações ao longo dos tempos.

Essa prática de fazer documentários (ou filmes de baixo custo) é algo a ser incentivado e valorizado, já que o cinema dissemina a cultura, ajuda as pessoas a reconhecerem sua história, entender a sua constituição identitária.

No Brasil o cinema tem se desenvolvido e ampliado, tendo um número significativo de salas, mas, como sempre, ainda não é acessível às classes menos favorecidas. Bem como, boa parte do que é apresentado vem do exterior, o que não ajuda na identificação e valorização da cultura nacional. O cinema nacional tem tido mais e melhores produções, mas ainda algo ínfimo em comparação a indústrias de cinema internacionais. 

Na Argentina se comemora a ampliação do acesso ao cinema, mas, no entanto, quase toda a arrecadação (cerca de ¾ dela) vai para empresas norte-americanas, retificando também neste país o monopólio internacional nesta área. 

Na atualidade, o ideal da indústria cinematográfica é a plenificação do uso de películas digitais. Isso vai trazer mais qualidade na exibição, entretanto é um mais um problema, pela dificuldade de adequação dos pequenos cinemas a nova tecnologia. Com isso, mais uma vez firma-se no mercado os grandes conglomerados da sétima arte.

Por isso é tão importante ver produções nacionais, que mesmo com as dificuldades de recursos financeiros, conseguem dar um recado tão importante, regatando a história e a cultura musical, dando a oportunidade à geração contemporânea digitalizada, reconhecer e compreender como todo esse cenário nacional da música, constituiu a sua narrativa e ação ao longo das últimas 4 décadas.

Neste sentido, muito merecidamente o documentário Filhos de João ganhou o prêmio do Festival de Cinema de Brasília (2009). Com carinho, Cássia.

 




Sempre que vemos um por do sol
não significa simplesmente que o dia acabou,
mas que um novo dia está iniciando,
com as suas infinitas possibilidades
de novas realizações. Cássia.





Link para o documentário completo (76 min).
http://www.youtube.com/watch?v=d57VtNeR9W8.

Dois links para pesquisa sobre expansão e digitalização dos cinemas.
http://culturadigital.br/cinemasemrede/2013/05/27/digitalizacao-das-salas-de-cinema-preocupa-argentina/.
http://culturadigital.br/cinemasemrede/2013/06/08/digitalizacao-ameaca-pequenos-cinemas-nos-eua/.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Carta para o outro lado de mim

Cara amiga,

Agradeço a confiança em partilhar comigo os seus sentimentos a respeito da sua escolha profissional, espero que possa colaborar não dizendo a você o que fazer, mas percorrendo com você um caminho que sirva de pontos de reflexão, para que você possa se perceber no seu processo e ter mais convicção na hora de tomar as suas decisões.

Desta forma, repassando todo o processo de formação profissional, pelo qual deve trilhar um psicólogo em formação, e pelo fato de que esse processo eu já pude vivenciar, é que considero ser possível chegar a questionamentos e também a algumas reflexões, que poderão colaborar na sua formação e no seu futuro exercício profissional. Isso, especialmente, depois de ter sido tocada pela possibilidade de deparar-me com os meus próprios conflitos que muitas matérias demandam, ou mesmo com as perspectivas mobilizadoras de alguns autores, como Calligaris, Freud e Lacan, que precisam ser compreendidas para serem questionadas ou assimiladas.

Neste sentido, posso começar a dissertar sobre este aspecto – como um curso de psicologia mobiliza o sujeito que está em formação. A cada momento é possível deparar-se com diversos conteúdos, principalmente nas matérias que tratam das abordagens, onde irá confrontar-se com as suas “neuras”, já que somos neuróticos (numa perspectiva psicanalítica) ou operamos na “normose”, se preferir. É difícil não ver estampado no espelho da nossa consciência tantas características pessoais, ainda que falando dos temas e citando exemplos de maneira generalista.

Nas matérias que fazem técnicas grupais esse aspecto é interessante, já que nos momentos de partilha muita coisa começa a emergir, aflorando às vezes até a nossa sensibilidade (na minha turma tivemos ótimas experiências neste sentido). Em algumas matérias essa confrontação é tão forte, que é preciso parar um momento para “discutir a relação” entre o grupo, o que mobiliza muito, mas também enriquece por demais a formação e o caráter do formando.

Quando paro para refletir sobre estes aspectos, chego a uma série de questionamentos. Se na formação já há tanta mobilização, como será quando deparar-se com os conflitos dos sujeitos com os quais irá atuar? Isso é algo que te aconselho a elaborar bem. Pensar que os sujeitos com os quais irá trabalhar vão depositar uma esperança de conseguir compreender os seus conflitos, elaborar as suas angústias, descobrir sua vocação etc. Mesmo que isso seja algo co-construído no processo (psicólogo/sujeito), ainda assim temos uma responsabilidade e é na formação que a consciência disto deve ser desenvolvida, e para isso deve ser despertada a sua atenção.

A partir destes aspectos que falei é possível faze um “link” com outro fator essencial na formação do psicólogo, o trabalho pessoal. Durante a minha formação fazia análise, para me situar em todo esse processo e favorecer a minha “estruturação” para uma futura atuação em saúde mental. Assim, desejo deixar-lhe ciente que é fundamental uma psicoterapia (na abordagem que mais se sentir estimulada). Isso é essencial para atuar na clínica, mas não somente nesta, pois em psicologia nós nos defrontamos com os questionamentos e conflitos do sujeito, independente da área de atuação escolhida. Nas organizações, nas escolas, nos hospitais, onde for, se lá está o sujeito, também estará com ele todos as suas angústias, frustrações, desejos, e nada como um profissional de psicologia para escutá-lo e acolhe-lo

E para desenvolver todas estas habilidades e competências implicadas na escuta clínica, no olhar diferenciado, e também obter um domínio técnico e um conhecimento teórico que possam fundamentar a prática, digo para você que é imprescindível o período da formação acadêmica. A experiência prática vai dar a consistência a essa atuação, mas é a teoria que a norteia. Por isso o outro ponto de reflexão que destaco é o compromisso com a formação. Não deixe que esse período se torne apenas um momento cansativo que deve logo passar. Aproveite cada matéria, participe das discussões, procure aprofundar as temáticas abordadas. Mesmo porque, conhecimento nunca é demais e sempre é uma forma de enriquecimento intelectual. Problematize a sua formação e não passe todo o período acadêmico, que é tão enriquecedor, “empurrando com a barriga” para conseguir um canudo e dar adeus aos estudos. Em especial na psicologia, que quando termina a academia a formação está apenas começando, e enquanto tiver vida a aprendizagem estará presente.

Também é indispensável o gosto pela leitura, especialmente dos principais autores da psicologia e aqueles mais direcionados a uma abordagem que mais venha a despertar o seu interesse e realmente fundamentar a sua atuação. Ressalto que são leituras que implicam em um gozo particular, pois tem muita coisa interessante e instigante, mas também um sofrimento, por ser contraditório a algumas convenções que já temos ou pela dificuldade de compreensão. Mas vale a pena o esforço, pois é muito enriquecedor.

Mas para que você possa se disponibilizar tanto em um processo de formação é preciso que saiba o que quer e goste daquilo que escolheu. Por isso ressalto a importância de você pensar bem na sua escolha profissional. Quais os fatores de motivação? Quais os desejos e o que você quer alcançar? Acredito que você deve ponderar bastante nestes aspectos, especialmente sobre a questão da vocação para uma atuação que predispõe uma implicação subjetiva tão profunda. Isso em um período de escolha em que tantos fatores se sobrepõem, como desejo de lucratividade, de status profissional ou mesmo pressão social por um diploma. Lembre-se sempre que esta escolha é sua, pois na atuação será você e o sujeito, e se você não se implica na sua escolha e na sua formação, será uma tarefa mais árdua e difícil se implicar com a prática. É preciso que esteja atenta a todos estes aspectos, e que sempre visualize a prática durante a sua formação.

Também considero importante que você tenha critérios básicos, que norteiem a sua postura após a sua escolha. Neste sentido acredito que alguns aspectos serão fundamentais para direcionar melhor, tanto o período de formação como a prática, como o compromisso com a ética, que para mim é um fator preponderante, que deve estar presente desde o início do seu processo de formação, fazendo refletir sobre a futura postura profissional. Segundo a questão de uma alterização do olhar. Uma supervisão é sempre importante, principalmente se encontrar alguém que possa dar essa visão sobre a futura área de atuação que deseja e para a escolha da abordagem que você mais vai se identificar. Ressalto que para mim, mais uma vez independente da área de atuação, uma abordagem teórica irá enriquecer muito a forma de visualizar os fenômenos com os quais irá deparar-se.
 
Por fim, para não me alongar por demais, acredito que o mais importante é você se implicar no seu processo desde o início da formação e consolidar isso na atuação. Se perceba como sujeito nesse processo, refletindo sobre os seus conflitos, especialmente aqueles que mais afloram, ponderando as suas dúvidas, trabalhando os seus sintomas, pois isso todos temos. Busque aprofundamento através de muita leitura e pesquisa, já que só o conhecimento dado em sala não favorece um melhor entendimento das demandas com as quais irá confrontar-se, tanto na formação quanto na atuação. Considere os seus desejos e o que espera da formação e da profissão, para não se decepcionar no primeiro obstáculo, pois quando se sabe o que se quer é muito mais fácil lutar e vencer as barreiras para alcançar os objetivos almejados.

Colocando todos estes pontos não pense que tenho como pretensão desestimula-la, pelo contrário, apenas desejo que você atentando para estes aspectos, possa despertar para uma conscientização e uma melhor postura acadêmica e profissional. Tudo que coloquei são pontos que trabalhados só servem para enriquecer a formação do futuro profissional de psicologia, para o qual a prática vai muito mais além de um simples conhecimento teórico ou técnico, perpassa por toda a sua subjetividade.

Vale ressaltar por que decidi escrever uma carta denominada para este “outro lado de mim”, pelo fato de que aprendi em psicanálise que aquilo que mais nos mobiliza é porque tem conteúdos próprios, muitos deles inconscientes, recalcados de tal forma que por vezes nem sequer admitimos que eles existam, outras vezes há características tão estampadas que inegavelmente dizemos venha, isso é meu! Mas sejam implícitos ou explícitos eles podem mobilizar (e já há até um trocadilho para expressar isso – “bateu, mexeu, leva pra casa que é seu”) e tornarem-se presentes no discurso. Então é hora de deixar a ficha cair e elaborar, ciente que tem coelho na cartola! Por isso escrevi assim com ares de auto-reflexão, pois estes pontos são alguns dos quais considero fundamental numa formação e que aconselharia a alguém, e assim com certeza preciso eu mesma estar em dias com eles. Porém, refletindo sobre todos estes aspectos e percebendo como me posiciono em relação a eles e como tenho lutado para melhorar em muitos, é que dá pra parar e pensar, que apesar das dificuldades, é possível exclamar - vamos lá seguir em frente, pois está valendo a pena!

Com carinho, Cássia.


Quando se sabe o que se quer
é muito mais fácil lutar e vencer as barreiras,
para alcançar os objetivos almejados. Cássia.


Carta feita ao final da minha formação em psicologia.