domingo, 8 de dezembro de 2013

Documentário Filhos de João – cultura e informação através da sétima arte

Filhos de João: O admirável mundo novo baiano, de Henrique Dantas (2009).
O post desta semana tem esse tema para discussão. 

A Bahia é um celeiro cultural, há ícones da literatura, da dança, do teatro e, em especial, da música. Dando destaque a este campo musical, o filme (Filhos de João) vem apresentar o histórico dos Novos Baianos, grupo musical que esteve em atividade de 1969 até 1979, composto por: Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca, Moraes Moreira, Tom Zé, Luis Galvão, Dadi, Baxinho.  

O filme mostra como as relações de amizade e o grande talento musical associado, podem modificar a vida de um grupo, que deu ascendência não apenas a transformação no mundo da música, mas na cultura em geral, bem como na política. Um encontro que transforma as histórias pessoais destes amigos, que trazia a música na mente, no coração e no dia-a-dia, e que de tão presente vence as barreiras em busca de um ideal utópico. Assim, esta geração não apenas encantava com a música de qualidade, mas com uma postura contestadora, diante de uma realidade ditatorial vivenciada na época (década de 1970).

Com certeza amavam os Beatles e os Rolling Stones, e puderam com a sua música tanto protestar quanto aliviar as tensões dos corações angustiados pelas pressões da falta de liberdade e direitos da ditadura militar.

É interessante que estes revolucionários culturais não apenas trabalhavam juntos, como grupo musical, mas partilhavam uma vida comunitária, vivendo de maneira desprendida o ideal de partilha e fraternidade, influenciados pela cultura hippie de liberdade, paz e amor.
 

Tinham como hobby o jogo de futebol, e até cogitaram deixar a música pelo esporte. Ainda bem que não o fizeram, pois com a imensa criatividade e talento que apresentava (e apresentam, já que muitos deles ainda estão atuantes na música), faria muita falta ao cenário cultural artístico brasileiro.

A película é um documentário que articula imagens, vídeos, músicas e depoimentos, muitos deles emocionados. E apresenta com riqueza de detalhes esta trajetória que foi significante e deixou uma marca, relembrada por gerações ao longo dos tempos.

Essa prática de fazer documentários (ou filmes de baixo custo) é algo a ser incentivado e valorizado, já que o cinema dissemina a cultura, ajuda as pessoas a reconhecerem sua história, entender a sua constituição identitária.

No Brasil o cinema tem se desenvolvido e ampliado, tendo um número significativo de salas, mas, como sempre, ainda não é acessível às classes menos favorecidas. Bem como, boa parte do que é apresentado vem do exterior, o que não ajuda na identificação e valorização da cultura nacional. O cinema nacional tem tido mais e melhores produções, mas ainda algo ínfimo em comparação a indústrias de cinema internacionais. 

Na Argentina se comemora a ampliação do acesso ao cinema, mas, no entanto, quase toda a arrecadação (cerca de ¾ dela) vai para empresas norte-americanas, retificando também neste país o monopólio internacional nesta área. 

Na atualidade, o ideal da indústria cinematográfica é a plenificação do uso de películas digitais. Isso vai trazer mais qualidade na exibição, entretanto é um mais um problema, pela dificuldade de adequação dos pequenos cinemas a nova tecnologia. Com isso, mais uma vez firma-se no mercado os grandes conglomerados da sétima arte.

Por isso é tão importante ver produções nacionais, que mesmo com as dificuldades de recursos financeiros, conseguem dar um recado tão importante, regatando a história e a cultura musical, dando a oportunidade à geração contemporânea digitalizada, reconhecer e compreender como todo esse cenário nacional da música, constituiu a sua narrativa e ação ao longo das últimas 4 décadas.

Neste sentido, muito merecidamente o documentário Filhos de João ganhou o prêmio do Festival de Cinema de Brasília (2009). Com carinho, Cássia.

 




Sempre que vemos um por do sol
não significa simplesmente que o dia acabou,
mas que um novo dia está iniciando,
com as suas infinitas possibilidades
de novas realizações. Cássia.





Link para o documentário completo (76 min).
http://www.youtube.com/watch?v=d57VtNeR9W8.

Dois links para pesquisa sobre expansão e digitalização dos cinemas.
http://culturadigital.br/cinemasemrede/2013/05/27/digitalizacao-das-salas-de-cinema-preocupa-argentina/.
http://culturadigital.br/cinemasemrede/2013/06/08/digitalizacao-ameaca-pequenos-cinemas-nos-eua/.

2 comentários:

  1. Oi Cássia. Bacana seu texto. Filhos de João, do diretor Henrique Dantas, é sim um belo filme. Assistir pela primeira na Mostra Lanterninha nas Comunidades. Esta mostra aconteceu em 2011, em 04 escolas publicas daqui de Salvador. Eu era da equipe de produção, mas na horinha de folga, assistir esse filme no auditório do colégio Lomanto Junior em Itapuã...engraçado que toda essa discussão sobre digitalização do cinema, conversão de película para digital sempre faz com que a gente pense nas pequenas salas, nos cineclubes e nas escolas como espaço possível de exibição de filmes. Me vem também a questão do cineasta e a disponibilização de sua obra, para aqueles que "não tem acesso". No caso de Henrique, ele era parceiro do projeto, nosso amigo, sócio de uma das coordenadoras da mostra...então, isso facilita...e no caso de outros cineastas? Qual o debate que a questão da digitalização pode suscitar por exemplo com relação a direitos autorais? Muito pano pra manga! Bjos e parabéns pelo texto!

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    1. Obrigada, Daiane.
      Bom ver que tanto em comum, o gosto pelo cinema, pelas ações simples e locais, mas que conseguem fazer a diferença, pela discussões que nos ajudar a tomar consciência da nossa realidade. Cássia.

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