domingo, 19 de janeiro de 2014

O movimento dos sem tela!

Gosto de movimentação, de dinâmica, de atividade social, como era o tema da semana falar sobre inclusão digital, resolvi voltar ao movimento que tinha iniciado três anos atrás – o dos Sem Tela.

Tudo bem, brincadeira à parte! Mas não consigo mais compreender tantas lutas em favor da inclusão. às vezes me parece que é politicamente correto (pelo menos para o sistema político corrompido em vigor) criar guetos de exclusão, para depois criar políticas inclusivas. Isso dá ibope, isso dá voto, consequentemente, isso dá dinheiro!!! Ah, sim. Agora entendi!!! É um ciclo vicioso, ou talvez um redemoinho. Sempre haverá novas possibilidades de exclusão, que serão sanadas pelos salvadores dos excluídos com suas políticas inclusivas de plantão.
 
Exclusão social, exclusão dos deficientes, exclusão escolar, exclusão da terra, exclusão do trabalho, exclusão digital. Mas será que é isso mesmo? Ai vem uma série de movimentos/políticas de inclusão dos deficientes, inclusão escolar, reforma agrária, inclusão dos indígenas, dos afrodescendentes, inclusão digital.
 
Que ironia! Estudei tanto e acabei ficando burrinha. Inocentemente achava que INCLUSÃO SOCIAL englobaria tudo. Sim, achava que se houvesse realmente uma política de direitos iguais e equidade, não havia necessidade de tantas políticas estanques, que procuram incluir por partes, sem estar socialmente inserido no todo.
 
Nos textos indicados para a reflexão desta semana (referências abaixo) encontrei conteúdos interessantes para serem pensados, sobre o que este sistema gera na nossa sociedade, descritos mais ou menos assim: uma massa subordinada e alienada, imprescindível para manutenção do sistema... exclusão faz parte das estratégias do capitalismo...
 
De acordo com esta ideia, de que a sociedade produz a exclusão para gerar a inclusão, é que entra a discussão sobre a inclusão digital. Para isso lá se vão um amontoado de políticas - Proinfo (Programa Nacional de Informática na Educação), UCA (Um computador por aluno), muitas outras.
 
Upa, um momentinho!!! Mais uma vez estou aquém destes cérebros desenvolvidamente politizados. Pensei que se fosse para fazer programa de inclusão, ele deveria ser socialmente amplo (abrangendo o todo da vida da pessoa). Porém, as políticas mais uma vez são estanques - é a inclusão digital na escola, ou melhor, é o computador na escola, que às vezes nem pode ser ligado, por não ter sistema, não ter rede. Estes por vezes não fazem sequer parte do processo educacional, não leva a interação, a constituição da cidadania, a compreensão dos direitos, a criação de opinião.
 
O computador se torna até um “presentinho”, do político “bonzinho”, claro que para agradecer nada melhor que um “votinho”, afinal não custa nada!
 
Em nenhum momento se reflete também que educação não é só na escola, bem como o social é um horizonte muito mais além - é escola, é família, é lazer, é trabalho.... Mesmo porque se inclui só em parte, continuará a haver exclusão de algumas outras partes. Se é para ter inclusão digital, que seja no todo da vida do sujeito, pelo menos isso!!!
 
Realmente, retorno ao ponto de partida, construamos uma sociedade igualitária, como garante a constituição – com direitos de todos, então políticas parciais de inclusão serão desnecessárias. Na verdade para mim a luta é pela cidadania, igualdade, equidade, comunidade!


É preciso ter cuidado, para não achar que apenas com um movimento (um click com a ponta dos dedos), pode se fazer um processo de inclusão digital. Com ações tão estanques é mais fácil  gerar uma massa de excluídos, no meio da multidão digitalizada. Cássia.
 
Referências nos comentários.
 

3 comentários:

  1. Cássia, adorei seu texto!!!! Porque incluir digital, se sempre haverão excluídos???? O que essa inclusão muda? Discursos que destoam das práticas... Penso que ou inclui TODOS, ou isso será mais uma falácia, como tantas outras. "a luta é pela cidadania, igualdade, equidade, comunidade!", EXATAMENTE.

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  2. Amei o texto!! Imaginei um monte de gente protestando na rua, reivindicando sua tela touch screen full HD e a conexão banda larga prometida pelo governo.

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  3. BONILLA, Maria Helena; OLIVEIRA, Paulo Cezar. Inclusão digital: ambiguidades em curso. In: BONILLA, Maria Helena; PRETTO, Nelson (org.). Inclusão digital: polêmica contemporânea. Salvador: Edufba, 2011, p. 23-48.
    BONILLA, Maria Helena. Políticas públicas para inclusão digital nas escolas. Revista Motrivivência. Ano XXII, No 34, P. 40-60 Jun./2010.

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