Atualmente há uma
relevância significativa em perceber que os fatores psicológicos são preponderantes
no desenvolvimento de diversas patologias. Estes fatores podem afetar
determinadas condições clínicas do sujeito – ligadas ao físico, fisiológico ou
comportamental. O caráter psicológico pode estar ligado a transtornos de
somatização, neste caso os sintomas físicos apresentados não tem relação
com fatores orgânicos, que possam justificar a queixa, tendo origem psíquica.
Mas, há também patologias organicamente diagnosticadas, mas para as quais os
fatores psicológicos interferem na sua gênese, desenvolvimento, tratamento ou
prognóstico1.

Distúrbios psicossomáticos de pele:
A pele é um órgão de
contato, relação e comunicação, que faz fronteira entre o mundo interno e
externo, sendo canal de transmissão de sensações e emoções. A pele tem a
capacidade de mostrar o estado interno dos órgãos, como também de comunicar
processos e reações psíquicas, podendo refletir problemas emocionais.
Os problemas de pele
têm um caráter diferenciado na sua manifestação, especialmente na cultura atual,
que tem uma visão de alto padrão estético, fazendo com que os pacientes com
sintomas dermatológicos se sintam socialmente inadequados, provocando
insatisfação, dificuldade inter-relacional e isolamento social. Desta forma, as
doenças dermatológicas, como ocorre com outras patologias, tanto podem ser
consequência de fatores psíquicos/emocionais, quanto sua manifestação
desencadeia ou agrava problemas emocionais, como condição de co-morbidade.
Atualmente, diversas
doenças de pele são caracterizadas como psicodermatoses, como a psoríase,
escoriação psicogênica, hiperidrose,
dermatite atópica, dermatite seborreíca, entre outras. A psoríase é a
psicodermatose mais estudada no campo cientifico. É uma doença crônica e
intermitente, com etiologia multifatorial e de interação entre genética,
fatores psíquicos e ambientais. É uma doença estigmatizante e de difícil
tratamento, com impacto negativo para a qualidade de vida do sujeito. Esta
patologia causa diversas restrições, com prejuízos, físicos, sociais e
psíquicos de igual relevância, contribuindo para aumento dos níveis de
frustração, favorecendo a baixa auto-estima, sintomas depressivos e dificuldade
de manter a atividade laboral. A própria condição da doença eleva o nível de
estresse, que favorece a exacerbação da sintomatologia manifesta, ao mesmo
tempo em que, o estresse, a ansiedade e a depressão, são os principais fatores
desencadeantes deste problema.
A condição de escoriação
psicogênica é uma psicodermatose em que são desenvolvidas lesões de pele,
provocadas pelo comportamento de coçar, lembrando o TOC por suas
características - ritualística, repetitiva e redutora de tensão. Os pacientes
tentam resistir ao desejo de coçar, mas sem sucesso, tornando o sujeito
disfuncional.
Distúrbios psicossomáticos cardíacos:
É na Cardiologia que o estudo da psicologia acentua a sua
importância. Ao interpretar um sintoma cardiológico é preciso não esquecer que
muitos deles podem ser apenas demonstrações somáticas de conflitos emotivos.
Inúmeros dos distúrbios apresentados como do coração, serão exacerbados ou
aliviados, dependendo do estado e fatores que comprometem o psíquico.

Pesquisas sobre
cardiologia psicossomática demonstram um padrão de comportamento específico,
caracterizado como tipo A, que apresenta hostilidade como fator preponderante,
urgência temporal e impaciência, tendo relação direta com o desenvolvimento de
doenças coronarianas. É interessante que em mulheres uma postura submissa é
fator de proteção contra o risco destas doenças. Isso lembra Chico Buarque,
quando fala “naquelas mulheres de Atenas, submissas e dóceis, serenas...”.
Será???!!!
Distúrbios psicossomáticos gástricos:
Todo sistema
gastrointestinal é bem sensível às alterações do estado emocional, havendo
forte ligação entre estresse, ansiedade e respostas fisiológicas gástricas. O
nível de estresse elevado pode provocar várias reações, como aumentar o tônus
do esôfago, levando a síndrome de espasmos esofágico, pode diminuir a atividade
motora do estômago, provocando náuseas e vômito, também reduz a função motora do
intestino delgado, aumentando a do intestino grosso, o que leva a apresentação
de sintoma de cólon irritável. Grande parte dos pacientes que apresentam
transtornos de ansiedade, alto nível de estresse, excitação excessiva ou
depressão, também apresentam como co-morbidade alterações fisiológicas
gástricas como gastrite, esofagite, úlcera péptica e colite ulcerativa.
Atualmente, no
processo diagnóstico das doenças psicossomáticas, atenta-se para a avaliação
tanto física quanto psicológica, para elucidar os fatores explícitos e
implícitos implicados nestas manifestações, elucida-se também o contexto
social/interacional do sujeito. A partir disso trabalha-se de forma mais
integracional, não só prescrevendo medicamentos, mas indicando psicoterapias e
conscientizando o sujeito para os padrões de comportamento prejudiciais, tanto em
nível físico quanto psicológico/emocional, que podem levar a uma deterioração
da qualidade de vida.
Enfim, nesta edição
procuramos elucidar algumas possibilidades de manifestações clínicas
psicossomáticas, de forma reduzida é claro, já que todas as patologias têm um
fator psíquico/social imbricado no seu processo. Falta agora trazer a evidência
as possibilidades de tratamento, destacando as psicoterapias. Este será o
próximo capítulo da nossa trajetória. Continue acompanhando e até a próxima!
Com carinho, Cássia.
O vazio existencial, eis o grande fator de causa de distúrbios psicossomáticos. É preciso descobrir razão da própria existência, para reencontrar o prazer pela vida, e assim quebrar as amarras que impedem de vive-la plenamente. Cássia.
Referências no comentário 1.