quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Psique e simulação?! Isso ainda não.

Refletindo sobre nossa discussão no seminário fiz um apanhado geral de conteúdos para serem analisados e decide compartilhar, afinal nossa forma de conhecimento é em rede.

O computador simula o cérebro humano, mas a psique ninguém consegue simular (nem mesmo a teoria de Lacan). Neurologicamente é possível fazer o mapeamento do cérebro e suas funções, e, de acordo com a teoria da simulação, criar por computação um modelo (tem vários na NET) desse aparato orgânico tão complexo e instigante. Modelar as suas partes constituintes e imitar suas funções orgânicas (sinapses/neurotransmissão) tão bem organizadas e desenvolvidas. O próprio computador parte de uma metáfora do cérebro e já tem computador tentando simular o funcionamento das funções superiores cerebrais (http://http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/27707-nasce-o-simulador-do-cerebro-humano).
Mas quanto a psique? Esta não, essa área ainda está para além de qualquer simulação ou modelo estabelecido. Está no campo da abstração, só pode ser acercada teoricamente, nunca apreendida.

Para entender melhor resolvi fazer uma metáfora bem grosseira, mas para ajudar a criar uma representação. O cérebro seria como uma casa grande (muitoooo grande!), com um número extremado de cômodos, cheia de móveis, instalação de água e uma rede elétrica gigantesca. Isto para hipoteticamente representar os neurônios (mais de 80 bilhões), as sinapses (mais de 10.000 conexões delas, para cada um dos mais de 80 bilhões de neurôniozinhos, uau!), axônios (fibras nervosas que conduzem informação) com suas paredinhas todas revestidas de mielina e  o líquor (LFC) circulando nas encanações. Teriam muitas outras partes esta morada, que representariam o tálamo, hipotálamo, cerebelo, adeno-hipófise, os lobos ... etc, etc, etc. Enfim essa morada imensa seria toda caída de massa branca e massa cinzenta, com um teto bem resistente forrado pelo crânio. Toda essa estrutura imensamente extraordinária e encantadora responsável por nossas funções orgânicas e até comportamentais. Achou isso grande? Ficou impressionado? Ainda não viu nada!
Vamos agora fazer a metáfora da psique (mente). Para isso vamos abrir a porta desta morada e sair. Na rua? Não. No bairro? Ainda não. Na cidade, talvez? É pouco. Aha, no país? Também não. A psique é como abrir esta porta e sair em um universo, e ainda em expansão.

O cérebro pode ser mapeado, sofrer intervenção cirúrgica, ser dissecado, mas com nenhum desses procedimentos pode se chegar a mente (psique) humana. Não é mesurável, não pode ser simulado, é pura abstração, é o campo do inaudito e todos os seus possíveis sinônimos. Tudo que se tem sobre esta condição humana são teorizações, muitas delas por sinal.

Mas este universo tem as suas galáxias, os seus planetas. Assim em uma próxima escrita talvez venha a continuar esta metáfora e falar das faculdades psíquicas, como consciência (esta em parte mensurável, com graus até de inconsciência no caso do “coma”), representação (o nosso simulador mental), juízo, afeto, mais..... muito mais!
Por isso que a psicologia, ciência que estuda este campo humano (psique), é tão complexa e tão desafiadora. Assim, desde de que comecei a estudar desenvolvi um pensamento que me acompanha até hoje, “para ser um grande psicólogo é necessário antes de tudo ser muito humilde” (Cássia).

Lembro-me do meu primeiro e segundo semestre, como este curso mobilizava, pois trabalhava-se o tempo todo com ambiguidades, já que são muitas as teorias para explicar o nosso objeto, e algumas tão contraditórias entre si.

De cara teoriza-se sobre inatismo e empirismo, quem está com a razão? Os dois. Por isso quando o professora trouxe em sala que tudo é aprendido, não se tem o “dom”, ela está certa. Mas, por outro lado, a concepção de Ronald (que temos “dom” – na verdade alguns conteúdos presentes "in nato" e que direcionaria certas habilidades depois) estaria certa também. Tudo depende do lugar do qual se fala. Pense, não parece loucura? Mas é com essas elucubrações que aprendemos a estudar a loucura.

Vamos para outro aspecto, as questões mais comportamentais. Agora trago o questionamento do Ronald sobre os games. Na faculdade outra ambuiguidade que me deparei foi que para uma teoria haverá uma regra básica – estímulo, resposta, consequência. Já para outras um estímulo (singular) leva a repostas (possibilidades) e consequências (possíveis). Respostas e consequências que sofrerão a ação de uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos. Por isso quando o Ronald dizia que isso poderia não fazer bem, concordo (ainda mais que ele deixou na probabilidade, já para algumas teorias será determinista mesmo). Mas, ao mesmo tempo, discordo, pois por outro lado as variantes terão influência nesse processo, então, não será determinante. Depende de que campo deste saber estamos falando.

Com relação a memorização a professora falou que se memoriza pela repetição, certíssima, se olhando por um lado teórico. Por outro campo não é bem assim, porque tem questões intrínsecas e extrínsecas também associadas, vai ter relação com o significado e a emoção, etc. Desta forma uma repetição pode levar a memorização como a um branco total. Claro que tem treinamentos para memorização de textos (eu mesma já usei estas técnicas, mas são questionáveis). Mas no campo do estudo em geral técnicas mnemônicas de associação e relação são bem úteis, aplicáveis e duradouras. Além da memória eidética, ou memória visual, que em alguns casos pode haver memorização instantânea e até simultânea de conteúdos diferentes.

Fala-se muito hoje em dia sobre inteligência emocional, e a teoria sobre isso até caiu no gosto popular, mas para algumas vertentes isso não tem a devida lógica (tem sido rebatida, ainda que tenha sua aplicabilidade), porque o ser humano é por si emocional. A emoção é uma das suas faculdades psíquicas e não há como dicotomizar a inteligência – parte emocional e parte não. Assim, não se desenvolve uma inteligência emocional, ela já é assim. Ansiedade, desejo, medo, sono, cansaço, fome, outros fatores, são questões associadas que levará a variantes na sua aplicação e são aspectos a serem trabalhados.

A ambuiguidades estava até na percepção (ou em alguns testes apercepção) dos testes psicológicos projetivos. Apresenta-se uma prancha do Rorschach, um percebe um morcego o outro um dragão (hipoteticamente!!!), quem está com a razão? Os dois. Tudo vai depender da projeção e da interpretação, ufa!

Enfim, é complicado ter tantas possibilidades de entendimento e perceber que foi possível construir teorias tão bem elaboradas sobre esses conceitos. Só quem se dedica a estudar estes aspectos e tem um entendimento aberto pode se encantar com o diferente e compreender melhor. Penso assim. Desta forma, ainda que tendo uma abordagem não excluo o entendimento das outras.
Mas para chegar a isso sofri um pouco. Lembro-me da aflição de quando entendia a teoria, mas em comparação com outras não conseguia aceitar tanta coisa contraditória (aqui trouxe apenas alguns exemplos). Então, ainda cheia de mim (algum tempo depois) fui conversar com uma professora psicanalista e disse que me formaria e faria parte do CFP, só para começar um processo de “conscientização” (oh, coitada!) para diminuir as abordagens e tonar a psicologia mais compreensível e direcionada (para mim naquela época Freud ainda explicava tudo!). Então ela me disse que achava que ainda eram poucas as que tinham, pela complexidade que é o psiquismo humano. Depois desta resposta percebi que quanto mais aberta ao entendimento eu estivesse, mais enriquecimento teria para minha futura ação, ainda que tivesse uma abordagem que seria a norteadora da minha prática.

Mas antes disso me questionava, o que que eu estou fazendo aqui? Treinando ratinhos? (ops. ratinhos não, sujeito experimental. Tem nome científico!). Um dia aprendo isso, noutro aquilo, um dia dizem que é assim, no outro dizem que é assado. Além disso, os dois estão certos! Não tem como! Alguém tem que estar errado! Era a minha visão cartesiana, disciplinar e linear que falava. Então, o grande lance é pensar sistêmico, holístico, em rede e em espiral. Enfim, cada um tem sua teorização psicológica. Não é matemática, não é ciência exata, é humanas, mais que isso, é subjetiva. Tem que sublimar (respirar ajuda!) e partir para outra (no caso abordagem).

O mesmo entendo agora na educação, é difícil pensar sistêmico, em rede, interativamente, se categoriza e limita-se as possibilidades (aprendizado só empírico, memorização só assim). Se não existe apenas uma possibilidade, porque não permitir dialogar com o diferente? Interagir conhecimentos ainda que aparentemente contraditórios? Não é possível limitar um aparato psíquico com uma capacidade ilimitada de possiblidades, demos estas possibilidades a ele! Gosto da física quântica por isso, ela trabalha a meu ver com essa universalidade do possível.

Não se pode dizer que antes não era possível um aprendizado como agora, pelos recursos tecnológicos oferecidos ao ensino hoje. Vejam as teorias milenares Platônica, Socrática, Aristotélica, Agostiniana, dentre outros, que são pilares do ensino ainda hoje, e pensem quantos dos nossos pensadores atuais, com os infindáveis recursos e dispositivos, conseguirão criar teorias que perdurem por milênios? E a riqueza centenária da inventividade de Da Vinci, Galileu, Descartes, Einstein, dentre tantos outros, que não tiveram um terço (tô pensado grande!) dos recursos atuais, e, no entanto, criaram a base teórica para todo o boom inventivo tecnológico da atualidade. Isso sem falar de Hegel, Marx etc, etc. Mais longe vamos se pensarmos no desenvolvimento inventivo e produtivo dos Maias e Incas. Sem os recursos tecnológicos atuais, mas conseguindo utilizar com precisão os recursos então oferecidos, construíram um aparato arquitetônico que encanta arqueólogos e engenheiros computadorizados (e não só eles!) até hoje.

Isso porque nós temos uma “máquina mental” - muito mais potente, que nem mesmos os futuros computadores quânticos poderão se igualar, afinal esses supercomputadores serão fruto da capacidade inventiva, indutiva, dedutiva, inteligível da mente humana. Esta tem recursos mnemônicos, representativos, oníricos, imagéticos, entre tantos outros, e sempre encontra formas de entendimento e aprendizado, seja percebendo uma simulação computacional, seja representando uma imagem simulada na sua mente. Cada tempo, cada espaço teve e terá suas dimensões quantitativas e riquezas qualitativas, ontem, hoje e no futuro.

Gente sou tão encantada por essa área que se der corda ao “meu computadorzinho pessoal mental” ele consegue pensar tanto, tão rápido, fazer tantas elucubrações, que iria escrever de tal forma que o meu mísero blog iria longe. Por isso, vou dar um tempo em outra oportunidade poderemos trazer outros aspectos para discutir.
Desculpe se encontrarem alguns erros na escrita, é que minhas postagens são assim: pensei, digitei, bloguei. Depois lerei e verei o quanto errei. Ou não! Talvez! Enfim! Beijos e fico por aqui. Abraços, Cássia.

Exemplo de discordância filosófica dialogada.
       
         Parmênides:
         Tudo é constante, não há mudança
           
 
                                                                        Heráclito: Tudo flui e nada permanece.

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